terça-feira, 12 de agosto de 2014

Primeiros engenheiros surdos do Centro-Oeste formam em Divinópolis
Eles contam como foi estudar com não surdos e conquistar graduação.
Noite das homenagens da Engenharia de Produção será na segunda (27).
Marina AlvesDo G1 Centro-Oeste de Minas


Irmãos passaram por toda a graduação juntos
(Foto: Sagae Formaturas Paraná/Arquivo pessoal)
Concluir uma graduação é uma conquista para muitos jovens por todo o país. Mas para dois alunos de Engenharia de Produção em Divinópolis, essa vitória é ainda maior. Mariana de Oliveira Ferreira, de 25 anos, e Felipe de Oliveira Ferreira, de 27, são irmãos e decidiram vivenciar juntos também os cinco anos da graduação. Além disso eles estão fazendo história como os primeiros estudantes com deficiência auditiva a se formarem como engenheiros de produção no Centro-Oeste de Minas, segundo um levantamento da Fundação Educacional de Divinópolis da Universidade do Estado de Minas Gerais (Funedi/Uemg), instituição onde eles formaram.
Assim como a maioria dos adolescentes, foi no ensino médio que Mariana decidiu qual seria a profissão após ficar em dúvida quanto a outras graduações. "Pensei em administração, contabilidade, matemática e design de moda. Por fim optei por Engenharia de Produção", recordou. Felipe, ao contrário da irmã, estava decidido quanto ao curso que escolheria. "Não pensei em escolher outro. Até pensei em fazer ciências da computação, mas no final eu queria mesmo era engenharia", afirmou...


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O surdo bilíngue

Procurando fugir da necessidade de optar entre uma língua de base visoumanual – que evidencia a surdez e, portanto, a deficiência e a diferença – e outra da base audioverbal – que reflete a normalidade -, surge uma possibilidade de resolver o conflito: proporcionar a aquisição das duas línguas para o surdo e torna-lo um bilíngue. Para tanto, os principais responsáveis pelos surdos – seus pais- devem possibilitar à criança meios de adquirir tais línguas. Levar o filho para interagir com adultos surdos proficientes em língua de sinais enquanto eles próprios devem fazer aulas para adquirir essa língua e, juntamente, realizar protetização precoce e submeter a criança à terapia fonoaudióloga, a fim de que desenvolva também a fala. Contudo, segue a dúvida: em casa, os pais devem falar ou usar a língua de sinais? Eles são orientados para se comunicar com o filho em língua de sinais, mas também por meio da fala. Dessa forma, encontram um meio termo, misturam as duas línguas. Qual a repercussão disso na aquisição da língua da criança adulta?
O bilinguismo na surdez surgiu na década de 1980. A fundamentação dessa abordagem é o acesso da criança, o mais precocemente possível, à língua de sinais e à linguagem oral. No entanto, ambas não devem ser assimiladas simultaneamente, dada a diferença estrutural entre elas. A língua de sinais (L1, primeira língua) deve ser adquirida por meio da interação entre a criança e o adulto surdo, e a língua na modalidade oral será fornecida à criança pelo adulto ouvinte, surgindo como segunda língua (L2), teoricamente baseada nas habilidades linguísticas já desenvolvidas pela primeira língua. Dessa forma, o surdo pode apresentar um desenvolvimento linguístico-cognitivo paralelo ao verificado na criança ouvinte. Além disso, pode haver interação harmoniosa entre ouvintes e surdos, havendo acesso às duas línguas: a de sinais e a da “comunidade ouvinte” (Moura, 1993).
O bilinguismo inaugura um novo debate na área da surdez: ele defende a primazia de uma língua sobre a outra ou seja , da língua de sinais sobre a língua portuguesa, antes aprendida simultaneamente, na comunicação total, ou isoladamente – a linguagem oral, no oralismo, ou a língua de sinais, quando se afirmava que o surdo não aprenderia jamais a falar. Essa primazia, defendida por muitos autores, tem por base dois argumentos. Primeiro, a presença de um período crucial para a aquisição da linguagem. Segundo, a existência de uma competência inata, pressuposto núcleo duro do paradigma inatista, segundo o qual, para aprender uma língua, bastaria estar imerso em uma comunidade linguística e receber dela inputs linguísticos cruciais.
Há, na proposta bilíngue, uma falta de consenso com relação à aquisição da segunda língua. Alguns autores defendem a ideia de que a língua de sinais deve ser aprendida antes do português, devido à diferença estrutural das duas línguas e visando ao desenvolvimento linguístico e cognitivo do surdo. Outros defendem que as duas línguas devem ser aprendidas simultaneamente. Outros ainda defendem que se deve ensinar apenas a modalidade escrita de língua portuguesa, e não a oral. E, por fim, há aqueles que acreditam que se deve ensinar ao surdo ambas as modalidades do português, o ensino da oralidade podendo ou não ser feito por meio da leitura e da escrita. Essas diferentes propostas são resultado das várias definições de surdo bilíngue. Derivam, pois, do conceito que se adota de bilinguismo e de fato de que a aquisição é concebida como um ato individual, de apropriação que se faz da língua.
Enquanto não se considera que as implicações linguísticas estão relacionadas diretamente às sociolinguísticas, pragmáticas, psicolinguísticas, neolinguísticas, continua-se discutindo as abordagens para a surdez como se elas não surgissem das possibilidades sociocognitivas do surdo em adquirir língua.  Como se o processo fosse o inverso: a abordagem educacional decide que língua o surdo pode/deve usar. Acrescento que isso tem consequências diretas no trabalho terapêutico desenvolvido com os surdos. É por isso que a discussão do bilinguismo na surdez deve ultrapassar o “método bilíngue” e concentrar-se na discussão sobre o funcionamento da(s) língua(s).


Texto retirado do livro de: SANTANA, Ana Paula. Surdez e Linguagem: Aspectos e implicações neolinguísticas. São Paulo: Plexus,2007. 165 p. 

Entrevista com professor de Libras sobre experiências com a surdez





Este
mostra a vivencia do professor em sala de aula, assim como sua própria historia
de vida quando criança, enquanto aprendiz da língua de sinais e sendo obrigado
a oralizar.

O desenvolvimento comunicativo e linguístico


Os ambientes linguísticos em que as crianças surdas se desenvolvem são muito variados, por isso os processos de socialização linguística são, igualmente, bastante diferentes. As crianças surdas cujos pais usam sinais adquirem de forma espontânea a língua utilizada no ambiente familiar. A relação que existe entre a criança surda e o input linguístico é semelhante ao que se estabelece entre a criança ouvinte e a linguagem oral falada na sua família. Nessa situação, encontram-se inicialmente 10% das crianças surdas cujos pais também são surdos. Todas as demais crianças surdas têm pais ouvintes que não conhecem, pelo menos de início, a linguagem de sinais.
Os pais ouvintes utilizam habitualmente a linguagem oral, contudo, podem aprender algum sistema de comunicação com sinais, quando consideração as consequências positivas de sua utilização para a criança surda. Em alguns casos, esse sistema de comunicação é a linguagem de sinais própria da comunidade de pessoas surdas
.

Texto retirado do livro de: COLL, César. MARCHESI, Álvaro. PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento Psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2° edição. São Paulo: Artmed,2004. 176 p.

SURDOS

O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NOS SURDOS

O estudo da inteligência das pessoas surdas passou por diferentes períodos históricos. Em cada um deles houve diferentes interpretações dos dados obtidos, que são a expressão das teorias e dos modelos dominantes em cada época.
Myklebust (1964) em seu livro sobre a psicologia do surdo apresenta a tese de que o desenvolvimento da inteligência dos surdos é diferente da dos ouvintes. O principal dado em que se baseia é que o pensamento dos surdos está mais vinculado ao concreto e apresenta mais dificuldade para a reflexão abstrata. Essa constatação não impede que em muitos testes de inteligência, especialmente naqueles com menor conteúdo verbal, os resultados obtidos pelos surdos sejam similares aos dos ouvintes. Por essas razoes, é possível desenvolver uma psicologia própria das pessoas surdas. O caráter diferencial procede das limitações dos surdos para ter acesso à informação, que faz com que sua atenção se centre, sobretudo em suas experiências internas. A ausência de som limita o acesso à linguagem, o que por sua vez influirá no desenvolvimento do pensamento abstrato e reflexivo.
Essa posição diferenciadora foi discutida a partir da teoria do desenvolvimento de Piaget. Sua formulação de que a linguagem e a interação social não ocupam um papel determinante na estruturação do pensamento fundamentou um amplo conjunto de pesquisas. A obra mais representativa dessa tese é a de Hans Furth (1966, 1973), cuja conclusão é a de que a competência cognitiva dos surdos é semelhante à dos ouvintes. Os dois grupos de pessoas passam pelas mesmas etapas de desenvolvimento, embora nos surdos a evolução seja um pouco mais lenta. Furt atribui o atrás as “deficiências experimentais” que o surdo vive.
Nos anos 1980 e 1990, são as formulações da psicologia soviética, juntamente com os modelo s de processamento da informação, que fundamentam os principais estudos e interpretações. O desenvolvimento cognitivo visto em estreita relação com o desenvolvimento social e comunicativo. Além disso, as pessoas surdas não são “privadas de linguagem”, como sustenta Furth, mas têm uma linguagem própria que se expressa na modalidade manual. Esses modos específicos de comunicação dos surdos também influenciaram as pesquisas atuais sobre a representação e organização mental da informação e sobre seus esquemas de conhecimento.

Referencias: texto retirado do livro, COLL, César. MARCHESI, Álvaro. PALACIOS, Jesús. Desenvolvimento Psicológico e educação: Transtornos de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2° edição. São Paulo: Artmed,2004. 181 p.